Se há valor que é comungado e partilhado por todas as famílias das pedagogias participativas, esse valor é a Liberdade!
Encontramo-lo em Maria Montessori, em Emi Pikler, em Reggio Emilia, no Movimento da Escola Moderna, na Pedagogia-em-Participação.
Sem Liberdade não há Observação!
Sem Liberdade não há Escuta!
Sem Liberdade não há Criatividade!
Sem Liberdade não há Diálogo!
Sem Liberdade não há Diversidade!
Sem Liberdade não há Inclusão!
Eles sabem que “o nosso chão tem sonhos e vontades”, como canta A Garota Não, porque lhes dizemos que as tábuas de madeira que os seus pequeninos pés pisam foram sonhadas por nós, compradas por nós, colocadas por mãos amigas para que todos pudéssemos caminhar com alegria e dignidade dentro da nossa cidade das crianças.
Eles sabem que podem vir mais cinco, como canta o Zeca Afonso, porque numa cidade das crianças há sempre espaço para o encontro, para a diversidade, para o diálogo, para a escuta, para a reflexão conjunta, para a diversão. É vê-los, genuína e autonomamente, a juntarem-se em pequenas rodas e a dançar com alegria ao som daquela voz que continua a dar-nos voz!
Eles sabem que “o povo unido jamais será vencido”, porque teimamos em habitar a cidade com eles, conversando sobre o que vemos, sobre o que não vemos, sobre o que poderia ser diferente. Porque as famílias os levam para as ruas, também, e lhes falam sobre a paz, o pão, a saúde, a habitação. E todos nos esforçamos para viver a educação! Esse bem maior que quer seja iniciativa do estado ou dos seus cidadãos, deveria ser sempre considerado público e acessível!
Eles sabem que “somos livres de voar, de dizer, de crescer” e que, por isso, “não voltaremos atrás”, como canta a Ermelinda Duarte. E é ouvi-los cantarolar estas palavras dia após dia, como barro-canção que os vai moldando a partir do interior, nas cordas vocais que dão ao corpo a afinação do humano construído a cada dia.
Já o pedagogo Paulo Freire dizia que a educação é a prática da liberdade. Pois é neste ato de educar, que é sempre um ato de se conhecer e de conhecer o outro, que vamos fazendo emergir a Liberdade, através das relações que estabelecemos. Como se os corpos em relação fossem esse molde do qual a Liberdade carece para poder existir plenamente.
Uma Liberdade que se cria e se recria; mutável, mas sempre a mesma.
Uma Liberdade cada vez mais ampla, mais significativa, porque cada vez mais consciente de si e do todo ao qual pertence! Porque, a cada dia, mais capaz de insuflar o respeito, o carinho, a admiração e o encantamento no coração dos seres humanos.
Na aldeia de São Mamede de Ribatua, no Alto Douro Vinhateiro, existe um caminho romano por entre os montes, que vai desaguar numa ponte onde é possível escutar e contemplar uma queda de água.
Aqueles montes tão próximos!
Aquela água tão fresca!
Aquela vegetação tão abundante!
Há qualquer coisa na natureza que parece transportar-nos melhor para esse lugar de Ser Livre!
Embora muito tenhamos a agradecer aos romanos pelos caminhos e ligações que nos legaram, diante daquela torrente de vida o meu pensamento foi para os primeiros sapiens. Aqueles que nada possuíam (nem a terra!!!) e que percorriam livremente tudo quanto é espaço e lugar!
Sabemos bem que nesse tempo a vida era extremamente violenta, sob vários pontos de vista! Mas, sob outros, não deveria ser ela encantadora? Mais livre e mais leve do que hoje? Levando muito mais em conta o cuidado com a nossa casa-mãe?
Um ambiente pedagógico que não se ligue ao mundo do natural e das origens; que não mergulhe com profundidade nos delicados mistérios que nos rodeiam, é um ambiente que ainda não entendeu nada sobre o que é isto da Liberdade!
Liberdade para SER!
Liberdade para VIVER!
Liberdade para SENTIR!
Liberdade para PERTENCER!
Liberdade para IR!
Liberdade para CRIAR!
Liberdade para (se) EXPERIMENTAR!
E poder fazê-lo sem medo, com tempo. É a esse lugar que queremos chegar, como os pés dos primeiros sapiens que percorreram pela primeira vez os montes, os rochedos, as águas e os campos sem desejar possuir nada nem ninguém! Só por um instante…